segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A ESCRITORA

“Escrever é sentir as coisas em palavras, por isso que ler se torna ganhar sentido.”

Capítulo Único

Escrever, escrever, escrever... Que destino cruel! Há tantas coisas mais fáceis na vida, e eu fui nascer logo para o mais difícil. Expressar-se em palavras não é para qualquer um, o escritor é diferente do homem comum. Porque há nele uma sensibilidade que vai além do externo olhar.
Eu poderia dizer que o que me move não é a razão, mas um espírito nobre de poeta que habita cada grama de meu corpo e faz dilatar meu coração.
Já pensei muitas vezes em parar, mas quando vejo... Uma nova encomenda! Nada pior que escrever sob pressão. Eu gosto do que é livre. Quando eu tenho liberdade e não preciso me preocupar com nada a não ser... escrever! Sem data de entrega, sem tema algum a não ser aquele que me trouxe à inspiração. Sempre a não ser.
Quando me descobri escritora era tarde e cedo demais. Tarde para voltar atrás, e cedo para começar.
Comecei minha vida agora, e já não me vejo fazendo outra coisa! Eu amo mais do que tudo a palavra escrita, essa que nos comove, que nos move aqui dentro, que nos impulsiona, que nos atinge, que intriga, que briga com a própria razão quando questiona a verdade; essa... é o todo que amo. Mas não desejo a ninguém o meu destino. A não ser àqueles que também foram destinados. Cabe cada um aceitar, quase sempre é preciso, pois não dá para lutar contra aquilo que é muito mais forte que nós. E nada é mais poderoso que a palavra.
Digo isso, porque metade da minha vida foi estragada por ela. Fui inconsequente ao usá-la, visto que a usei de qualquer modo. Não se pode usar a palavra à toa, sem antes pensar nela. Meu passado é meu martírio, mas também é minha história. Tudo aquilo que vivemos carregamos para sempre.
Têm vezes que... eu não escrevo! Quem disse que sou obrigada a escrever? Eu digo, sim, sou obrigada, pois quando não escrevo, não me sobra nada, não me torno nem me faço, mas, quando crio a palavra em frases que se complementam, eu passo a ser tudo e dou significado ao existir. Não posso ficar sem escrever, senão tudo dentro de mim se diminui ao vazio. Minha alma precisa pensar a falta que sente o meu ser, quando minhas mãos param de se expressar. É a arte!
O que é a arte? É a expressão última de qualquer talento. É a criação de uma obra mais elevada que a vivida. Arte é criar, é transformar, é fazer surgir o novo através do antigo ou do “nada”. Como escreveu Gullar, “a arte é (...) uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um outro – mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais ordenado – por cima da realidade imediata”. Creio que a arte só é arte quando o sentimento a expressa. E, ainda, ouso a dizer que a verdadeira arte deve ser inteligente, pois se a “arte” não for inteligente, não pode ser considerada arte. Julgo que inteligência é saber utilizar adequadamente todas as ferramentas que construirão a arte. As ferramentas? Nada mais que o sentimento e o talento. Para se construir arte é preciso dedicação plena e a unificação de ambos.
Eu faço arte. Nunca escrevi sem sentimento, nunca escrevi sem ter talento, mesmo que adquirido, pois, quando não temos, podemos adquirir através da prática. Posso não ter talento musical, mas se todos os dias eu treino algumas notas no piano, logo saberei tocar uma partitura. Essa aprendizagem é feita em dois tempos; primeiro se lê as notas, depois as toca. Assim é o mesmo com a escrita, primeiro se lê inúmeras obras que são consideradas primas, depois se tenta escrever algo semelhante. Digo quando não se tem dom nato, pois para os natos, mesmo que precise de prática, é tudo mais fácil, pois flui. Para se escrever é preciso praticar a memória, anotar as idéias, as organizar, estruturá-las no papel.
Escrever é expandir, de forma concreta, um pensamento. Quando eu o falo, depois o perco, então, de que me adianta? Para nada, somente um leve desabafo num momento passageiro, mas quando escrevo, quando escrevo o desabafo me é perpétuo. Não passará e toda vez que eu o ler, sentir-me-ei aliviada, porque minhas palavras ficaram registradas para ninguém esquecer.
Até que ponto vale à pena escrever? O ponto final (de uma obra)? Quando se tem ambiente para isso; não sou como alguém que se contenta com qualquer lugar, a minha verdadeira obra só se forma no silêncio. O ponto final é meu supremo alívio. E eu digo: “- Está consumada.” Será? Muitas vezes escrevo e quando termino de escrever tenho a sensação de que ainda falta algo, o que me faz pensar que toda obra escrita é mutável enquanto seu autor vive.
Não sei quando acabará minha paixão, mas se um dia alguém falar: “A Srª Le parou de escrever”, foi porque morri. O poeta não pára, pode dar um tempo, quem sabe para um novo crescimento interno dele mesmo para refletir isso na própria obra posteriormente se assim desejar, mas não pára, não pára de escrever. Quem nasce com o dom, é condenado a viver para sempre com ele, até o fim, ou seja, vive por escrever, escreve por viver. Ama mais a obra do que as coisas, e ama as pessoas justamente por tanto amar a obra, pois essa as envolve, elas são parte da mesma.
Certa vez alguém me perguntou de onde vinha minha inspiração, e eu respondi: “De tudo, ela vem de tudo.”
É difícil dizer como funciona minha cabeça, creio que da forma mais complexa possível. Eu penso tudo ao mesmo tempo, desejo fazer tudo ao mesmo tempo, mas o tempo é que não me permite. Viu? Paradoxal.
A coisa principal que posso dizer é que, no fundo, não consigo viver sem escrever. É o que sustenta a vida da minha alma, pois quando não escrevo me frustro, quando não escrevo perco o meu sorriso, quando não escrevo, esqueço-me que há um paraíso.
Quando estou apaixonada (coisa da qual já nasci assim!), quando choro, quando me sinto magoada, quando me sinto de alguma forma amada, e tantos outros quando, é que surge a palavra, aquela que é voz no papel.
Quando me dou por conta, já escrevi uma poesia, normalmente, que fala de amor.

Eu não queria te amar
Como te amo
Mas não posso conter
Tudo o que sinto
Meu coração tenta
Despertar dessa ilusão
Mas na aguenta
É forte demais essa paixão
E eu me derramo
No chão
Por desejar tanto
Por almejar
Num período incerto
Literário
Um novo verso
Eu litigo
Não minto
Eu não queria te amar
Como te amo
Mas não posso esconder
Tudo o que sinto.

Desde quando escrever começou a ser um martírio? Definitivamente, eu, que devia saber, não tenho vontade de escrever o que sei. E, como tudo depende da vontade, ou é nada, ou é tudo. Eis que fico com o nada.

Nada,
Eis tudo o que sou.
Olhos rasos de água
Tanta mágoa
Que nada restou.


Creio ter sido a dor o maior fundamento da minha escrita. Quando era a alegria que me dominava, minha escrita não era tão bela. Mas quando a lágrima caia sobre minha face, dela saia as mais belas palavras. Concluo que a dor é parte de mim, é o que gera a obra sincera desse eu-lírico que sou, um eu profundo, pessoal, um eu poeta.
Uma vez ouvi alguém dizer que ler é produzir sentido, eu afirmo que, de igual maneira, escrever é produzir sentido em amplitude, pois todo texto não é dotado de um único sentido, visto que a mensagem do autor é constituída de múltiplas escrituras em diálogo, tal diálogo que sugere a vários tipos como o interno.
Minha escrita surge do nada, ou melhor, do tudo. Eu anoto as idéias, quando lembro, muitas já me esqueci, muitas que eram boas, mas quem sabe voltarão um dia ao meu pensamento para me perturbar; espero apenas estar com um papel e caneta na mão. A minha obra surge dessas anotações, que eu poderia dizer que são rascunhos do pensamento. Quando anoto uma ideia, estou rascunhando um pensamento antes que ele seja lançado ao olvido. Quando não consigo registrar tal momento, quando me perco, sei que nem tudo está perdido. Outras inspirações virão de qualquer lugar.
Se alguns, que me conheceram nos primórdios de minha vida, não concordam com a forma pela qual vivi, eu sinto muito, nunca pretendi desapontá-los. E, sendo a escritora desta história chamada “Minha Vida”, tenho o direito de não pedir permissão para escrever sobre o que eu quiser. Eu me dou permissão para brincar com as palavras, para transformar o mundo que eu piso em mundo de asas. Quem nunca desejou voar? Tem gente que não tenta com medo de cair, mas afirmo que dá para sobreviver à queda. O importante é nunca deixar de tentar.
O meu maior problema é esquecer. Eu me esqueço de tudo, de ideias que acabei de ter em poucos segundos, como agora, eu iria escrever outra coisa e, quando vi, já não sabia mais o que eu havia pensado em escrever. Tudo “sobre” da minha cabeça, o recado que era para eu dar, o arroz que eu devia ter desligado antes de queimar, as próprias palavras que se embaralham na minha mente e, quando vi, as troquei por engano. Eu deveria ter escrito “SOME”, mas escrevi “sobre”!?
Nem tudo é perfeito no meu mundo. Dizem que vivo no mundo da lua, mas a lua não tem luz própria. Dizem que vivo num mar de rosas, mas ele é cheio de espinhos. Eu queria ter escrito minha história em pergaminhos, é tão chique, tão antigo, tão verossímil como a bíblia. Meu mundo é cheio de imperfeições, mas é meu. Não que eu as aceite, mas considero. Minha escrita tem falhas, mas tudo eu revejo sob um novo prisma. Sei que ela tem valor, e não se trata de qualquer um, porque meu cunho instiga o Bem sempre. O valor da minha escrita está nesse desejo, não por querer mudar o mundo para melhor, mas por produzir um novo sentido aos olhos do mundo, um sentido de amor, de paz, de alegria, de dor, de morte, de vida.
Escrever é algo elevado, há em mim, como deve haver em qualquer escritor, o prazer de escrever mesmo que nem sempre seja tão prazeroso assim quando somos vencidos pelo cansaço ou pelas obrigações. O prazo muitas vezes mata a escrita, sim, é o tal “escrever apressado”, um dos tantos vícios, consequentemente, que tenho.
Depois de tanta análise, conclui que escrever é um ato performativo e eu, como autora, sou a chave do enigma textual, pois está em mim todas as respostas do mistério desses textos, afinal, sou eu a dona deles, aquela que os escreve. E se alguém não me compreender, não compreender os meus escritos, direi firmemente como alguém já disse: “Estou acima de meu tempo”.
Ouso a dizer que importa quem fala, porque sou eu que estou falando. Mas a obra deve ser desligada de seu autor, pois, por mais que aja traço do mesmo, não é em si toda a realidade. A obra pode me ser e eu posso sê-la, nós dois num só, nem por isso ela é minha vida real, ao contrário, é minha vida fantasiada, mascarada, lírica, que se faz universal, pois, sendo assim, é também a vida de muitos, ela fala de “um todo” entre “nadas”.
Sei que posso parecer nova aos olhos do mundo para descrever com tanta certeza tais percepções sobre a obra, o ato performativo de escrever, o escritor moderno que nasce junto com seu texto, mas é que sinto que minha morte é iminente. E, antes que não possa mais escrever, quero deixar, aos que virão após mim, verdades que são noções de um mundo espetacular: o mundo das palavras que se formam no papel.
Eu tenho um sonho, sonho que visa a educação. Creio que esse deveria ser o fim último de qualquer escrita, pois sem educação jamais alcançaremos a maior virtude que é a justiça. Certa vez, perguntaram-me “Que vantagem tem de ser justo?”, obviamente eu fiz a mesma pergunta no sentido inverso “Que vantagem tem de não ser?”. Como os grandes filósofos, chego a conclusão de que o homem não educado não serve para nada, por isso, vale mais ser justo que injusto.
A escrita não deveria ser um reflexo da sociedade, pois sendo essa corrompida influenciaria no resultado da escrita. Assim, ela, novamente a escrita, deve ser reflexo único de seu autor, que deve se espelhar no que é melhor para sua sociedade, por isso, repito, todo e qualquer escrita deve ter cunho educativo, sendo da forma mais poética ou fria possível. Educa-se de muitas formas, falando de amor, de vida, de morte, de esperança, de coisas, de qualquer coisa que possa elevar alguém a pensamentos dos mais nobres a respeito dessas mesmas coisas, pensamentos abstratos e práticos ao mesmo tempo. Será possível? Tudo é possível ao escritor.
O escritor se isola quando é preciso, analisa, pensa, reflete, tem percepção e sensibilidade para notar mais profundamente as coisas, e isso faz dele não ser comum, ou melhor, ser incomum.
Ouvi que nenhum autor deve ser contraditório. Ser contraditório é falhar no discurso. Por isso a função de autoria afasta tudo que possa comprometer a unidade de sua fala. Todo texto tem que ter uma tese, um argumento e uma conclusão. Ao menos, é o que eu tenho aprendido em Análise do Discurso. Dou razão, mas descobri que meu discurso é falho, porque eu sou contraditória. Nenhum “tudo o que escrevo ou falo” faz sentido aos outros, somente a mim. Talvez esses sejam os nós da minha escrita, quem irá desatá-los? Deveria ser eu, mas, se eu que os fiz, por que desataria? E tudo chega a uma não-compreensão.
Uma vez um amigo me disse que as mulheres em si eram muito complicadas, mas eu ainda conseguia ser mais. O que quer dizer que estou além de um caráter confuso, além de uma personalidade complexa, além de um único ser com inúmeras coisas distintas dentro de si; ele quis dizer que estou além do “envolvente e difícil” para ser alcançada. Temo que a frase dele seja verdadeira, mas como posso falar isso de mim mesma? Só afirmo que não nasci para ser fácil, tudo me parece simples aos olhos enquanto minha alma, por instantes, pára em êxtase profundo.
Algumas vezes fico pensando se, por mera tolice, antes de morrer, eu terei tempo de deixar uma última frase escrita. Sei que poderia deixar muitas coisas, bonitas provavelmente, sempre com um toque doce, mas... Eu só queria que alguém pudesse dizer após mim que “ela traçou com a pena uma única frase: Viver não é necessário, Necessário é escrever, e dormiu”. Não teria sentido se eu deixasse alguma outra coisa, visto que era o meu fim. O fim de uma vida, da história que minhas mãos escreviam. E se vivi... foi pela obra. Tudo pela obra! Atos que nunca teriam sido aceitos, embora realmente não tiverem sido em si, se não fosse pela obra, minha melhor fuga.
Viver para mim nunca teve tanto sem tido, quer dizer, sentido, pois sem poder escrever sou destituída de vida. Sinto-me frustrada quando não posso escrever, ou, pior, quando não consigo, falta-me um ânimo que surge em hora inapropriada, intrusa. Concluo que ler é fácil, difícil é escrever. No entanto...
Escrever é mais que um forte desejo, é uma realização. Quando escrevo deixo vir à tona meus pensamentos, muitos dos quais se escondem atrás de um olhar triste, de um frágil sorriso, de uma outra expressão. Não! Não quero que pensamentos fiquem escondidos, cada um tem que pôr pra fora o coração. Deixar a emoção, às vezes, tomar conta da razão. Deixar cair uma lágrima quando se tem vontade de chorar, deixar soltar uma gargalhada quando se tem vontade rir, se deixar... Soltar-se. Viver! Complementar-se. Não sei por que há pessoas que insistem em se esconder atrás de uma máscara, de uma falsa face, de uma quase-mentira ou meia-verdade, de palavras que não condizem com o íntimo! É preciso de clareza, de sinceridade, que a verdade saia de si em palavras limpas, é preciso leitura, que cada um crie nobremente sua própria escritura.
Se eu tivesse um último desejo, não pediria uma biografia sobre mim, pediria uma análise do pouco que já escrevi, porque esse se transformaria em muito, e minhas palavras passariam a ter valor a ponto de ser a todos essenciais. O que escrevo ainda não importa tanto, porque ninguém “importante” disse que era bom. Não basta a eu dizer, independente da confiabilidade que há em mim, é preciso do outro, o sujeito que validará minha obra. E é por isso que já pensei em parar, mas... Se eu parar, morrerei. E sou tão jovem para morrer.
A verdade é que não é por mim unicamente que escrevo, mas pelos outros sujeitos que existem e inexistem em minha vida. Escrever a alguém é abraçar esse alguém, ao menos a minha escrita, pois não escrevo para alfinetar, não foi por isso que nasci, escrevo para complementar, abrigar, confortar, esperançar, e com meus dois braços não posso abraçar o mundo, mas com minhas palavras posso alcançar a todos e é por isso que escrevo! (Palavra que se repete)
Falando um pouco mais de mim, ser um tanto insignificante, perdi minha mãe muito cedo, e sinto apenas porque ela não pode mais me abraçar, e o abraço que eu não posso ganhar, eu dou. Ela também não pode mais nem se orgulhar de mim, porque só os vivos é que se orgulham. Minha tristeza é que a melhor mulher do mundo, o outro verdadeiro que poderia validar esse papel, não vive mais para dizer que minha obra é falha, mas minha alma é perfeitamente mágica.
Eu sou um ser que... Digamos assim, não sou o que sou, sou o que penso, o que estimo, o que sinto, o que escrevo, sou complemento. Ninguém espere de mim a melhor escrita, nem da minha pessoa a perfeição, mas espere de mim a mais doce e amarga palavra que falhará muitas vezes até acertar, espere de mim mais do que podes imaginar, porque sou um amor abstrato que é possível de se sentir.
Eu queria ser A ESCRITORA, e, se um dia eu chegar a me tornar, chorarei tão completamente que poderei regar todo sertão. Tal sertão que há nas encruzilhadas do meu pensamento, nas dúvidas que navegam nessa ilusão.
Sobre poesia, eu a amo. Quando vejo estou escrevendo versos corridos, chamados “prosa poética”. Minha prematura obra é impregnada de poesia, poesia que traz significantes como “magia”, “singela vida”, vida que eu cismo a dizer sempre que é só de ida.
É tão irônica essa vida que a primeira coisa que eu escrevi, aos 5 anos de idade, foi poesia: “Meu nome é Andressa, meu sobrenome é Savoldi”. Prestarão atenção na rima interna? Quando cresci só acrescentei o Le, porque todo poeta tem seu charme, seu “monde”, sua razão de ser. Le, não é exatamente Le Monde, quer dizer Lê com circunflexo que indica um verbo necessário, sem circunflexo, que há algo muito mais profundo, há minha mãe, que foi meu Eros, meu monde, minha vida, toda palavra que hoje sai de mim sofrida, porque a morte nunca é esquecida. Minha mãe, uma tal jovem que, aos 33 anos, como Cristo, sorriu para a vida ao dizer adeus, a diferença é que ela permanece aonde a deixamos. A vida foi embora, mas a morte continuou. Triste fim de Lair Eula? Não, não seria triste esse fim, porque o nome dela, dessa tão nobre flor que me gerou, será perpetuado em meu nome. Sim, é como se eu dissesse que através de mim ela existirá para sempre. E, como vivo de um conceito chamado “mimesis”, a obra se faz perpétua quando morre o poeta, frase que deveria vir no fim.
Falando de prosa, é o meu sonho consumista. Eu amo ainda mais a prosa, essa que, na verdade, é mais difícil de ser lida quando é mais longa (constituída de tantas e tantas folhas), é mais complexada, precisa de mais tempo, até que seja lida a última página, para ser compreendida, tal acontecimento que pode demorar dias. Tal motivo que leva as crianças lerem e se interessarem por escritos mais curtos, como a poesia, elas gostam de poesia ainda mais do que nós, porque descobrem a verdadeira magia que essa tem, e como são espertas! Um dos motivos que me leva a querer escrever só para elas, porque não preciso escrever muito para ser entendida, o meu pouco será suficiente e as fará compreender muito bem o que quero dizer. A verdade mais pura é que elas me dão mais atenção. Ter atenção e ser compreendia me realiza em dobro. Visto, ainda, que sou enjoada para escrever, mas são esses enjoos o tal sinal de que algo está sendo germinado dentro de mim; sou, de fato, um verdadeiro paradoxo, porque tenho capacidade para escrever dez páginas por dia e escrevo dez por ano, ano de nove meses. Será, então, que é fruto dos meus 22 anos?
Não, e indago: “Por que não flor dos meus 22 anos?” Tal idade que completei a pouco, pois a pouco eu tinha 21, e é triste, isso sim, constatar que há dois meses tenho 22. Como passa rápido o tempo, como ele me frustra, pois se eu vivesse na segunda fase do romantismo, essa seria a hora de eu sorrir para a vida e dizer adeus.
- Adeus! Sei que nunca serei nada a não ser palavra.

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